🥘 Carbonada argentina – Prato de inverno, alma de tradição
- acheicozinhando By Tobias e Débora
- 15 de jul.
- 7 min de leitura

✨Um prato que aquece corpo, alma e memória
Tem receita que não é só comida — é história, afeto e resistência. A carbonada argentina é dessas. Um guisado robusto, colorido e reconfortante, feito pra enfrentar o frio com sabor e presença. Carne, legumes, milho, especiarias e aquele toque adocicado dos damascos secos (os famosos orejones) criam uma combinação que é puro abraço em forma de marmita.
Mais do que uma receita, a carbonada é um símbolo da cozinha criolla — aquela que nasceu do encontro entre os povos originários e os colonizadores espanhóis, e que foi sendo moldada ao longo dos séculos por mãos camponesas, fogões de lenha e panelas de ferro. É comida de campo, de festa, de inverno e de partilha.
Nesta versão personalizada, o prato ganha ainda mais textura e profundidade com o purê de cabotiá adicionado no final da cozedura. Isso não só engrossa o caldo como traz um sabor caramelizado que conversa com os demais ingredientes de forma harmoniosa. E o melhor: tudo feito na panela, com praticidade e alma de tradição.
🧭 A história da carbonada – da Bélgica ao campo argentino
Apesar de ser considerada um prato tipicamente argentino, a carbonada tem raízes que atravessam o Atlântico. O nome vem da carbonnade flamande, um guisado belga feito com carne bovina, cebola e cerveja escura. Os espanhóis, que dominaram
Flandres por séculos, trouxeram essa receita para a América durante o período colonial.
Aqui, ela foi adaptada aos ingredientes locais: saiu a cerveja, entrou o vinho; saiu a cebola caramelizada, entrou o zapallo (abóbora), o milho, a batata-doce e os damascos.
A versão argentina virou um guisado criollo, cozido lentamente em panelas de ferro sobre lenha, e servido dentro da própria abóbora assada — uma apresentação que virou marca registrada do prato.
No século XIX, a carbonada já era presença garantida nas mesas camponesas e nas marmitas dos trabalhadores rurais. O poeta José Hernández, no clássico Martín Fierro, cita a carbonada como parte do banquete gauchesco:
“Veniá la carne con cuero, la sabrosa carbonada, mazamorra bien pisada, los pasteles y el güen vino.”
🧊 Marmita com alma – a carbonada como comida de resistência
A carbonada não é só prato de festa — é também comida de marmita. Por ser nutritiva, fácil de reaquecer e feita em grandes quantidades, ela era levada pelos trabalhadores do campo, das minas e das fábricas argentinas desde o século XIX. O guisado era armazenado em potes de barro ou latas, e comido frio ou aquecido sobre fogareiros improvisados.
Hoje, ela volta como opção saudável, reconfortante e cheia de memória afetiva. A versão com purê de cabotiá é perfeita pra congelar em porções individuais, levar pro trabalho ou servir num jantar de inverno com amigos. É comida que alimenta o corpo e conta uma história — e que pode ser adaptada pra diferentes estilos de vida, sem perder sua essência.
🍴 Acompanhamentos que combinam
A carbonada é um prato completo, mas pode ganhar ainda mais charme com acompanhamentos simples e afetivos:
🍚 Arroz branco soltinho – ajuda a absorver o caldo e traz leveza ao prato
🥖 Pão rústico ou baguete – ideal pra mergulhar no guisado e raspar o fundo do prato
🧀 Queijo meia cura ralado – derrete por cima e cria uma camada cremosa irresistível
🥗 Salada de folhas amargas – rúcula, radicchio ou chicória com vinagrete de limão equilibram o dulçor da carbonada
🌽 Farofa de milho com cebola caramelizada – traz crocância e reforça o sabor criollo
🍷 Bebidas que harmonizam
O sabor intenso e levemente adocicado da carbonada pede bebidas que equilibram e realçam:
🍷 Vinho tinto seco – Malbec, Cabernet Sauvignon ou Bonarda são clássicos argentinos que casam perfeitamente com o prato
🍺 Cerveja escura tipo porter ou stout – realça o sabor da carne e das especiarias
🧉 Chimarrão ou mate cocido – versão argentina do nosso mate, ideal pra acompanhar sem competir com o sabor
🍵 Chá preto com especiarias – canela, cravo e gengibre criam uma sinergia com o guisado
🧃 Suco de uva integral ou maçã com gengibre – opção não alcoólica que traz dulçor e frescor

📝 Ingredientes
Essa é uma receita para uma panela generosa, daquelas que perfumam a casa toda e alimentam com sobras. Os ingredientes podem parecer muitos à primeira vista, mas seguem uma lógica simples: base de carne, legumes em cubos, caldo aromático e toque adocicado. Tudo junto, tudo integrado.
Para a carbonada (rende de 6 a 8 porções fartas):
🥩 1 kg de paleta bovina sem osso, cortada em cubos médios
🎃 1/2 abóbora anco, picada em cubos
🎃 1/2 abóbora cabotiá, cortada ao meio (para o purê)
🥔 1 batata-doce, descascada e picada
🥔 1 batata comum, picada
🌽 1 espiga de milho, cortada em rodelas
🍑 1 punhado de damascos secos (orejones), picados grosseiramente
🥕 2 cenouras, cortadas em rodelas médias
🧅 3 cebolas médias, picadas
🌿 1 cebola de verdeo (cebolinha), picada para finalizar
🌶️ 1 pimentão vermelho, picado em cubinhos
🍅 1 tomate, sem sementes, picado
🧄 3 dentes de alho, bem picados ou amassados
🍅 1 xícara de purê de tomate (caseiro ou industrializado)
🍷 1 copo de vinho tinto seco
🧂 1 litro de caldo de legumes quente
🍃 1 folha de louro
🌶️ Cominho, páprica doce, ají moído e sal, a gosto
🛢️ Azeite de oliva, para refogar e finalizar
🎃 A abóbora cabotiá será assada e transformada em purê para engrossar e dar sabor ao final do preparo.

👨🍳 Modo de preparo detalhado, com técnica e história
A carbonada tem algo de ritual. Ela convida a cozinhar com tempo, observação e afeto. Cada etapa prepara a próxima, como uma composição musical em que os ingredientes entram no momento certo.
1. Assar a abóbora cabotiá para o purê
Pré-aqueça o forno a 180 °C.
Corte a cabotiá ao meio no sentido horizontal. Retire as sementes com uma colher (guarde se quiser assar separado ou plantar).
Regue a polpa com azeite e polvilhe sal.
Coloque numa assadeira com a parte cortada voltada pra cima.
Asse por 40 a 50 minutos, até a casca enrugar e a polpa ficar macia.
Retire do forno, espere esfriar um pouco e raspe a polpa com uma colher.
Esmague com garfo ou bata no processador até virar um purê liso. Reserve.
🎃 Esse purê entra no final do preparo e muda tudo: textura, sabor, cor.
2. Dourar a carne com especiarias
Corte a carne em cubos de cerca de 3 cm. Seque com papel-toalha pra facilitar a selagem.
Tempere com sal, cominho, páprica doce e ají moído.
Aqueça azeite numa panela grande, de fundo grosso.
Adicione a carne aos poucos, sem amontoar, pra garantir que cada pedaço doure bem.
Sele de todos os lados até formar crosta.
Retire e reserve num prato.
🔥 Essa crostinha caramelizada cria a base de sabor da carbonada. Não pule essa etapa.
3. Refogar os legumes aromáticos
Na mesma panela, adicione mais azeite.
Refogue a cebola até murchar e ficar translúcida.
Acrescente o alho e mexa até perfumar.
Junte a cenoura, o pimentão e o tomate.
Raspe bem o fundo da panela com colher de pau para liberar os sabores grudados da carne.
Refogue por cerca de 10 minutos, mexendo sempre.
🌶️ Esse refogado é o coração aromático do prato. Vai perfumar a cozinha inteira.
4. Deglacear com vinho e criar o caldo base
Despeje o vinho tinto sobre os legumes refogados.
Mexa com vigor, raspando o fundo.
Deixe o álcool evaporar por 3 a 5 minutos, até o líquido reduzir levemente.
Acrescente o purê de tomate e o caldo de legumes quente.
Misture e adicione a folha de louro.
🍷 O vinho traz acidez e complexidade. Escolha um tinto seco com corpo médio.
5. Incorporar os legumes principais e a carne
Volte com os cubos de carne dourados pra panela.
Adicione a batata-doce, a batata comum, a abóbora anco, os damascos picados e o milho.
Mexa com cuidado pra não quebrar os legumes.
Cozinhe em fogo médio, com a panela semi-tampada, por cerca de 40 a 50 minutos.
Vá mexendo de tempos em tempos e ajustando o sal.
🥔 Esse é o momento de deixar os sabores se encontrarem e o caldo tomar forma.
6. Adicionar o purê de cabotiá e finalizar
Com os legumes bem macios, adicione o purê de cabotiá reservado.
Misture delicadamente. Ele vai engrossar o caldo, intensificar o sabor e deixar tudo mais cremoso.
Cozinhe por mais 5 a 10 minutos.
Finalize com cebolinha picada.
🎃 O purê transforma o guisado em abraço.
7. Servir ou fracionar em marmitas
Sirva quente, em prato fundo ou tigela rústica.
Acompanhe com pão, arroz ou só carinho.
Ou porcione em marmitas: dura até 5 dias na geladeira e até 3 meses no freezer.
🧊 Ideal pra quem quer comida caseira durante a semana, mesmo nos dias corridos.

📊 Tabela nutricional estimada
Nutriente | Porção padrão (300 g) | Porção de 100 g |
🔥 Calorias | 390 kcal | 130 kcal |
🍞 Carboidratos | 32 g | 10.7 g |
🧈 Gorduras | 18 g | 6 g |
🧀 Proteínas | 22 g | 7.3 g |
🧂 Sódio | 480 mg | 160 mg |
🍋 Fibras | 6 g | 2 g |
🧮 Cálculo estimado com base em carne bovina, abóbora cabotiá, batatas, milho, azeite e damascos secos. Os valores podem variar conforme a execução, tamanho dos vegetais e cortes.
🧊 Armazenamento e congelamento
A carbonada é perfeita pra marmitar — e essa versão com purê de cabotiá se comporta muito bem no freezer.
🥡 Na geladeira
Dura até 5 dias em pote fechado.
Reaqueça em fogo baixo ou micro-ondas, mexendo para não grudar.
O sabor até melhora no dia seguinte, como todo bom guisado.
❄️ No freezer
Pode ser congelada por até 90 dias.
Use potes individuais ou sacos zip com porções de 300 g.
Identifique com data e nome (carbonada com cabotiá).
Para descongelar: leve direto ao fogo baixo ou deixe na geladeira por 12h antes de aquecer.
🧊 Evite congelar com arroz ou queijo por cima — adicione na hora de servir.

✨ Conclusão – Um prato que atravessa gerações e aquece qualquer mesa
A carbonada argentina é mais do que um guisado: é uma receita que carrega o sabor da terra, a memória dos trabalhadores e o afeto das cozinhas criollas. Nesta versão com purê de cabotiá, ela ganha textura cremosa, profundidade de sabor e praticidade — sem perder a alma.
É prato de inverno, de marmita, de domingo em família. É comida que conta história, que sustenta e que emociona. E que, mesmo adaptada, continua sendo fiel às suas raízes.
“A carbonada é feita pra compartilhar — e pra lembrar que comida boa é aquela que tem história.”
Receita 283 - 2025
Receita adaptada e testada por Tobias Martins - Achei Cozinhando




















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